Um lar para os indígenas

UFSM fará casa do estudante especial para índios alunos da instituição

Maurício Araujo

Em uma demonstração de respeito às diferenças, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) projetou moradias exclusivas para estudantes indígenas na instituição. A intenção é construir, no total, quatro prédios, de quatro andares, com 16 apartamentos cada. As moradias são bem parecidas estruturalmente com a que já existe nas Casas do Estudante Universitário (CEU 1 e 2), mas os prédios serão dispostos em forma de círculo, tal qual as ocas costumam ser dispostas em tribos. A iniciativa é pioneira no país.

Ainda em 2015, pelo menos um edifício será erguido e já vai abrigar os 29 alunos índios que hoje moram na casa do estudante do campus. A intenção, amplamente discutida com a comunidade indígena, é não deixar que se percam crenças, costumes e cultura dos índios.

Para tirar a proposta do papel, a Federal precisará buscar recursos em um ano de crise e cortes de gastos, A instituição ainda não têm o orçamento definido. Conforme o pró-reitor adjunto de Infraestrutura da UFSM, Benoine Josué Poll, a estimativa é que cada prédio custe cerca R$ 2,3 milhões. O projeto completo ainda não foi orçado. Somente após obter o recurso é que a obra poderá ser licitada. Ou seja, apesar de intenção de erguer o primeiro prédio ainda nesse ano, não há data para o início das construções.

— Teremos 128 apartamentos com capacidade para abrigar até oito pessoas cada. Tudo deve ficar pronto nos próximos cinco ou 10 anos, conforme for aumentando o número de alunos indígenas — explica Benoine.

No centro das edificações, que ficarão de frente umas para as outras, a proposta é preparar uma área de 800m² para que seja dedicada aos rituais e como espaço de convivência. Salões de artesanato e de eventos e uma estrutura dedicada a atividades infantis, de informática, de literatura e administrativas também estão no projeto. A proposta já passou pelo aval de representantes das aldeias.

Caciques e universitários apoiam iniciativa pioneira

Os indígenas acreditam que um lugar próprio será importante para manter a cultura dos povos, principalmente no que diz respeito à lingua. O estudante de Direito Gilmar Bento, 31 anos, é índio caingangue e acredita que um local para eles propicia a permanência na faculdade, facilitando a convivência e fortificando os costumes.

— A língua caingangue está sendo perdida com o tempo. Um espaço para nós ajuda a mantê-la, e ajuda na cultura do índio, que não pode ser perdida — explica Gilmar, que não se deixou fotografar pela reportagem porque precisava de autorização da comissão indígena na cidade.

O cacique caingangue de Santa Maria e presidente da comissão, Natanael Claudino, avalia que as novas moradias são uma conquista histórica resultado de uma luta antiga pelos direitos dos índios:

— Nós somos diferentes. Temos modos diferentes de preservar nossa cultura. Os estudantes vão sair das aldeias, mas vão continuar juntos mantendo os costumes neste novo lugar.

Os prédios especiais para os indígenas serão construídos em uma área atrás do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), no campus.

Funai diz que projeto atende necessidades

Proporcionar melhores condições para a permanência dos estudantes e uma educação diferenciada, respeitando costumes dos índios. É isso que o projeto da Casa do Estudante Indígena quer oferecer aos alunos, acredita o servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Passo Fundo, Waldecir Dysarz, que acompanhou o processo de criação da proposta.

— É um projeto excepcional, que atende a reivindicações de aldeias, caciques e alunos. É um avanço, uma conquista, e a Universidade está de parabéns pela iniciativa — salienta Dysarz.

A Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) afirma que mais oito indígenas devem ingressar na instituição no próximo semestre, totalizando 37. Conforme a Prae, os índios recebem uma bolsa permanência do Ministério da Educação (MEC) de R$ 9

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